domingo, 28 de agosto de 2011

Roteiro para compreender os desafios da Dilma

Ultimo Segundo
Por:Jorge da Cunha lima

A coisa não é tão simples. Lula foi eleito sob uma enorme desconfiança da burguesia nacional, apesar da oportuna “Carta aos Brasileiros”, que produziu antes da eleição. Aos poucos, com muita inteligência, firmou-se no poder: conquistou o sistema financeiro dando-lhes oportunidades incríveis de ganho, conquistou os muito pobres com a bolsa família, acalmou os sindicatos conferindo-lhes oportunidades nas empresas públicas e na gestão de fundos bilionários, seduziu os estudantes sindicalizados na UNE, e fez um pacto de governabilidade com o parlamento, distribuindo capitanias hereditárias aos partidos aliados. Acredito que não soubesse que esses ministérios pactuados fossem pastos de benefícios muito além da política. Estoura então a crise do Mensalão. Tão grave e profunda, que levou à perplexidade tanto a oposição quanto o próprio governo. Lula, depois do choque, optou por sacrificar fundo alguns correligionários, inclusive o maior deles, José Dirceu. Quando percebeu que o tempo e a inércia o favoreciam, jogou tudo para baixo do tapete, com alguma habilidade. Mas, percebendo ou não, nesse e no segundo mandato, ficou refém dos aliados. Seus ministros puseram as manguinhas de fora e a mão na cumbuca. A sombra do Mensalão impedia ações moralizadoras por parte do governo, apesar das investidas espetaculares da Policia Federal, sem maiores conseqüências judiciais. Já que um faz, sem maiores penas, todo mundo pode fazer. A governabilidade institucionalizou as oportunidades.
Apesar da primeira crise internacional, o país ia muito bem, com índices mínimos de desemprego, a economia bombando, o proletariado se transformando em classe media, o consumo dos desejos atingindo níveis altos a partir do crédito a longo prazo, gente pobre comendo carne, gente inculta indo ao cinema e até ao teatro.
Lula, com a força e a intuição que Deus lhe deu, elegeu sua sucessora contra toda a expectativa de uma oposição incapaz e sem a escolha dos aliados. Dilma, um ET, com lastro administrativo e ideológico.
Dilma tem moralidade, como um atributo natural, não duvido. E já adquiriu experiência rápida para não fazer uma faxina ostensiva e desestabilizadora. Vai agir à medida que os fatos ganhem visibilidade, apoio na opinião pública e alguma consistência política.
Aos poucos, se Deus quiser e houver apoio das pessoas de bem, além dos oito quixotes do Senado, as capitanias hereditárias da sustentabilidade, podem se transformar em ministérios políticos, mas relativamente eficientes. Mais difícil, contudo, do que enfrentar a crise financeira internacional será persistir no combate a esse vírus da corrupção institucionalizada.

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